terça-feira, 10 de janeiro de 2023

O silêncio de depois

Eu respirava... era só isso que eu queria! "Fique em silêncio", dizia minha mente na iminente ebolição daquele momento. O "tic-tac" do relógio ecoava na minha cabeça como os badalos de um sino de igreja. Ele ainda está aqui? Quanto tempo vai demorar? Achei que terror era coisa de filme, mas... não era! Enquanto eu me escondia, muita coisa passava em minha cabeça, algumas delas perversas. Essa não era eu, rancorosa, vingativa... triste! Quase como um mantra, repetia diversas vezes em silêncio: Você vai sair dessa! Claro que isso não dependia de mim... "Um armário, achei, estou salva!" Os sapatos dele no assoalho, eram um alerta de que ele estava perto. E se ele me achar? O que eu faço? Grito? Choro? Corro? Ouço a porta abrir... "Ele está aqui!" Com o parter da porta, veio o olhar de ódio! Lembrei-me do início, dos olhos que, como agora, também brilhavam, só que de amor! Mas as boas lembranças são passado. Agora ele está na minha frente, abriu o armário, me encontrou... Fugir não é mais a saída, mas qual seria então? Não há quem possa me salvar. Tenho que ser eu a heroína de minha própria história. Ele vem, violentamente, ele vem. Pega meus braços, me joga na cama... Com as mãos que um dia me deram tanto carinho, agora me bate, agride, violenta... "Um momento de distração, essa é minha chance!" Minhas mãos encontram uma garrafa, a que ele mais gosta... Sem pensar o ataco, na cabeça, com o desespero da reação, do medo... Ele cai, sangra, está indefeso... Chego perto, ele não respira... E eu... eu apenas respirava, e era só isso que eu queria! "Fique em silêncio", dizia minha mente, que barulhenta, estava anestesiada... Numa atordoante mistura, de culpa, paz, alívio e solidão.